Docente, coração de estudante

Ensinar, educar, instruir, lecionar. São todos verbos que, em Língua Portuguesa, apontam para a ação de um mesmo personagem: o professor. Destaco a raiz etimológica de “lecionar”, pois gosto da sua estreita relação com a leitura. Do latim lectio – legere, lecionar é sempre um ato de leitura, um jogo de eleição e junção das palavras para colocá-las em ordem, de tal modo que o todo faça sentido. A atividade do professor é, nesse sentido, um contínuo trabalho de organização – das palavras, dos textos, dos discursos e dos saberes que compõem determinada área a fim de partilhar conhecimentos. O professor nunca é a origem, mas sempre parte em um processo, e aqueles a quem ele se dirige são também frutos de tal processo. Pelo menos, este é um dos seus principais objetivos: incluir mais e mais pessoas nos fluxos de conhecimento que nos constroem enquanto seres humanos em sociedade. Formar leitores, mantendo-se leitor. A condição de leitor eleva todos os envolvidos à postura de aprendizes. Assim, eu aprendo para conseguir ensinar.

 

Quando decidi ser professora, eu não tinha clareza de muita coisa – ainda não tenho, aliás. Mas um sentimento era muito forte em mim: quero sempre ter um “coração de estudante”. Minha vontade de compreender foi que me levou ao desejo de explicar, uma espécie de sede de compartilhamento. Por isso a minha maior recompensa é quando ouço: “ah, entendi”, ou simplesmente quando vejo nos olhos aquela sintonia de que está dando certo, de que houve comunicação (comunicar – tornar comum), de que o conhecimento, enfim, seguiu seu fluxo.

Sem nenhum romantismo, quando falamos da figura do professor, especialmente no Brasil, estamos diante de um verdadeiro herói. Até porque, do ponto de vista da teoria literária, heróis estão mais para as tragédias do que para os romances. São muitos e muitos os desafios, desde os empecilhos políticos até os enfrentamentos em sala de aula, mas mesmo assim a docência caminha. Não há como parar uma atividade tão essencial às organizações coletivas. Não obstante, nosso papel é professar, manifestar e exigir condições dignas de trabalho. Pois onde houver um professor haverá sempre um leitor, e onde há leitura há sempre a possibilidade de um mundo mais justo. Feliz dia, professor(a)! Viva os docentes de todos os dias e de todos os cantos! Viva a educação!

 

 

Hulda Gomides Oliveira é produtora editorial da Inteligência Educacional. Professora de Linguagens. Doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-SP), com período no exterior (EHESS-Paris), mestre em Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Graduada em Letras (UFG) e em Jornalismo (Alfa).

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