O que aprendemos com a pandemia

O último webinário da série, realizado no dia 23 de julho, discutiu os aprendizados obtidos com a pandemia do novo coronavírus, com foco nas políticas de apoio aos idosos. O secretário geral da OEI, Mariano Jabonero, comentou sobre os impactos da pandemia em segmentos da sociedade como educação, saúde e economia. Para ele, o vírus demonstrou que vivemos em um sonho de normalidade, que se mostra desigual no dia a dia, e acrescentou que situações de pobreza e ausência de acessibilidade devem ser solucionadas por meio de diálogo com agentes sociais da educação, cultura e ciência.

O professor emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Buss, iniciou sua fala com uma dedicação às vítimas do novo coronavírus, aos “milhões de latino-americanos invisíveis para políticas públicas” e aos profissionais de saúde, que classificou como bravos profissionais que arriscam todos os dias suas vidas para tratar os doentes. Para ele, um vírus com tamanho impacto nos mais diversos setores da sociedade é algo que não tínhamos vivido ainda. Buss destacou ainda que a epidemia não é democrática, mas é heterogênea, e se distribui diferentemente em tempos e intensidade entre os países da América Latina, mas tem uma unidade: mostrou de forma cruel a desigualdade reinante em nossa sociedade.

Buss destacou que é importante estar atento a esse aprendizado de uma vigilância epidemiológica, sanitária, da resposta epidemiológica, da organização dos serviços hospitalares, e da atenção primária, porque se tivermos isso bem organizado, teremos uma resposta muito melhor do sistema de saúde a qualquer pandemia que virá. O pesquisador abordou ainda que se o mundo voltar a ser o que ele tem sido, nós podemos esperar muito pouco do futuro, sugerindo que sejam feitos ajustes fortemente baseados na Agenda 2030 e os seus objetivos do desenvolvimento sustentável.

 A gerontologista e especialista em serviços sociais, Pilar Rodríguez, destacou em sua fala a necessidade de se pensar a abordagem da vida atualmente. Ela acredita que muitos países deram exemplos negativos na adoção de políticas públicas eficazes para se combater o novo coronavírus. Para Rodríguez, as vulnerabilidades atingem a todos, mas especialmente os idosos, e principalmente, de maneira muito dramática, os que estão nas instituições. A gerontologista ressaltou que defender a atenção máxima à pessoa é uma proposta que pode ser válida para melhorar nossa maneira de enfrentar, como sociedade, fenômenos como a longevidade de uma maneira eficaz e eficiente.

O presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria em Buenos Aires, José Jauregui, discorreu sobre a situação do novo coronavírus na Argentina. Para Jauregui, estamos mostrando o que sempre fomos e fizemos com os idosos. Ele destacou que falta uma comunicação gerontológica na sociedade, apesar de um grupo de pessoas interessadas, que fazem pesquisas científicas, políticas e acadêmicas.

A ex-relatora das Nações Unidas para Direitos das Pessoas Idosas, a professora Rosita Kornfeld-Matte, disse que será preciso adotar medidas para comportar as transformações demográficas que se darão nos próximos anos, já que atualmente, existem cerca de 900 milhões de idosos no mundo e este número deve atingir 2 bilhões até ano de 2050. Ela ainda enfatizou a importância do respeito aos direitos humanos. Para ela, o aprendizado que fica para o pós-pandemia é que os direitos das pessoas idosas não têm sido escutados, e isso traz um idadismo profundamente arraigado em nossa sociedade. Também é necessária uma base de dados mais precisa sobre esse grupo etário, o que vivem, o que fazem, em que situação estão para tomar as decisões políticas, sociais, econômicas e sociais corretas.

Última palestrante do webinário, a diretora da Escola Andaluza de Saúde Pública da Espanha, Blanca Fernández-Capel traçou perspectivas sobre os problemas sanitários que atingem a população mais velha. Para ela, a mídia não noticia o suficiente sobre o avanço da covid-19 em países sul-americanos. Fernández-Capel destacou ainda que o sistema de proteção social também tem que mudar e que é preciso refletir sobre essas 900 milhões de pessoas no mundo que estão envelhecendo e como elas podem contribuir com a sociedade.

Em sua fala de encerramento, o curador e moderador do evento, o diretor do ILC no Brasil, Alexandre Kalache, destacou que os idosos são a parte da solução, os que podem ver a luz ao fim do túnel. Ele relembrou problemas que, além da pandemia, expuseram as fraquezas das políticas públicas vigentes em locais menos desenvolvidos. Por fim, terminou sua fala conclamando uma convenção da ONU para direitos das pessoas idosas, já que este é o único grupo que não tem uma convenção específica e justamente o que mais cresce no mundo.

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