Perspectivas e Desafios da Filosofia na Educação Básica

Olá, tudo bem?

Hoje quero desafiá-lo a se aventurar nos mares revoltos da Filosofia para compreender o seu contexto e o seu papel no cotidiano escolar. 

Será que hoje ainda há espaço para a Filosofia como uma matéria na grade curricular da Educação Básica? Com certeza, você já reparou que essa é uma disciplina que gera muitos questionamentos por partes de governantes e especialistas em Educação. Essa não é uma questão tão simples de se entender. Mas é notório que sempre que há uma mudança no currículo escolar, as disciplinas que são inseridas ou excluídas, são sempre as das ciências humanas. E, de modo especial, Filosofia e Sociologia. Será que isso é apenas uma questão de coincidência ou realmente elas não têm espaço nos dias de  hoje? 

Para iniciar sobre esse assunto gostaria de compartilhar, se você me permite, uma rica experiência que tive no Curso de Filosofia, na Faculdade Educacional de Brusque, em Santa Catarina. 

Eu me lembro que o meu primeiro dia de aula foi uma mistura de sentimentos de motivação, decepção e alegria. Adentrei a sala de aula, lugar sagrado do saber, cheio de expectativas e curiosidades sobre o que iríamos aprender. Porém, no quadro, estava uma frase colocada e assinada pelo nosso futuro professor de História da Filosofia, com os seguintes dizeres: “A Filosofia é um troço que com o qual ou sem ou qual tudo continua igual”. 

Confesso que fiquei perplexo. Estudei tanto para entrar na faculdade, escolher um curso e seguir uma profissão. E já de cara tudo isso parecia cair por terra. Imaginei que esse curso não serviria para nada, não iria transformar nada. Eu perderia longos anos de estudo me dedicando há algo que jamais contribuiria para uma sociedade melhor.

E me fiz a pergunta que até hoje é feita por muitos: Afinal, para que serve a Filosofia? Assim que deu o sinal, o professor entrou na sala, ficou nos observando e depois de um tempo de silêncio disse: “Vocês passarão três anos estudando Filosofia. E serão três anos ouvindo essa frase do quadro como piadinha dos alunos e professores dos outros cursos que se pautam pela ciência. Peço, encarecidamente, não os culpem. Eles estudam as suas ciências sem saber que o fundamento, a base, o por que dos conhecimentos que sustentam os seus conhecimentos vem da própria Filosofia. Isso lhes foram negados por uma educação mecanicista. Mas, saibam, a razão de tudo o que o homem faz e desenvolve tem como pilar o próprio ato de filosofar.

Nessa hora a alegria e o temor me invadia. A responsabilidade era maior do que imaginava. Filosofia e Educação eram irmãs gêmeas no processo de formação e construção de seres autônomos e pensantes.

E podemos perceber isso no próprio desenvolvimento da Educação, pois a primeira universidade da história foi fundada pelo Filósofo Platão, por volta de 387 a.C.  A “Akademia” ou “Hekademeia”, como era chamada, dedicava-se exclusivamente sobre a indagação filosófica e seus questionamentos sobre tudo que cerca o ser humano.

Mas afinal o que é Filosofia? Filosofia é um conhecimento especulativo que segue regras sistemáticas, racionais e lógicas para se chegar às conclusões de maneira mais válidas possíveis sobre as mais diversas realidades, como por exemplo: o ser, a sociedade, a política, a existência de Deus, o autoconhecimento e o comportamento social.  Por isso, Filosofia não é ciência, mas está muito longe de ser achismo ou senso comum. É um conhecimento especulativo de profunda validade e apesar de não se ter como comprovar algumas teorias, porque alguns assuntos simplesmente são complexos demais para uma única definição.

Partindo desse pressuposto, vemos que a Filosofia tem um papel fundamental na Educação Básica, pois ela se debruça na questão do pensar sobre o pensar. Isto é, o objetivo da Filosofia para os educandos é desafiá-los a questionarem os “saberes preexistentes”, indagar sobre o que pensamos, sentimos, vivemos e conhecemos para se obter respostas válidas entre os seus pressupostos e suas conclusões. 

Neste sentido, o papel do professor enquanto mediador do conhecimento filosófico é ser um explicador das questões filosóficas que impulsionam os grandes pensadores a buscarem uma solução para os mais variados dilemas da humanidade. Por isso, o professor que entra em uma sala de aula impondo o seu ponto de vista, o seu viés político e filosófico, a sua visão de ser humano, de arte, de sociedade, de cultura e de religião, por exemplo, está prestando um desserviço à Educação e a própria Filosofia.

Outro fator relevante é que dentro do contexto do desenvolvimento das competências socioemocionais, propostos pela nova Base Nacional Comum Curricular, a disciplina da Filosofia jamais poderá ser subjugada ou retirada do currículo da Educação Básica. Ela é inerente a todo o processo que se busca desenvolver nos alunos a partir dos seus objetivos gerais e específicos. 

A própria “Reflexão e Atitude Filosófica” já vêm ao encontro do que é proposto para a Educação no Brasil. É através do pensamento filosófico que se constrói e se desenvolve: a busca pelo entendimento e compreensão dos conhecimentos do mundo físico, social, cultural e digital; desenvolve o pensamento científico, crítico e criativo através da indagação e da curiosidade sobre o mundo que os cerca; aumenta o repertório cultural e promove o respeito às mais diversas expressões artísticas e culturais; desenvolve a capacidade da comunicação e da argumentação; busca compreender as novas formas de organizações e envolvimento social através da cultura digital; desperta a consciência para o eu, para o projeto de vida  e o desenvolvimento de um profissão que contribua com a humanidade; proporciona o autoconhecimento; ajuda a debater ideias diferentes sem que haja conflitos e preconceitos; e torna os alunos cientes da sua responsabilidade social, moral e ética perante a si mesmo e a sociedade. 

Observe, no parágrafo acima temos todas as dez competências da BNCC através de um olhar dos benefícios da Filosofia na Educação. E, você pode estar se perguntando: por que tantos governos e especialistas da Educação combatem ferozmente o desenvolvimento dessa disciplina? 

A resposta é óbvia, porém complexa. Porque a maior arma que os governantes e os alienadores ainda temem é uma mente pensante capaz de indagar, refletir e tomar suas atitudes com autonomia e responsabilidade. Desenvolver cidadãos críticos, questionadores e profundamente atentos às realidades do seu tempo torna-se muito mais difícil de manipular. O mundo que queremos e desejamos a partir da nova BNCC é a construção de uma geração que põe em prática o pensamento crítico e não tem medo de transformar a si mesmo e a própria sociedade a partir da arte do pensar e do indagar. Filosofar é descortinar o mundo para contemplar o que se tem além!!! 

 

Referências Bibliográficas: 

 

https://www.infoescola.com/educacao/academia-de-platao

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