Carolina Pessoni
Goiânia – A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), em parceria com o Centro Internacional de Longevidade (ILC) e a instituição Inteligência Educacional, realizou, nesta quinta-feira (9/7), o primeiro webinário da série Trilhas da Longevidade – desafios diante da pandemia.
O encontro abordou como o a pandemia de covid-19 tem sido enfrentada na Argentina, Espanha, México, Uruguai e Portugal. A série de eventos, com foco na qualidade de vida da pessoa idosa, prossegue nas próximas quintas-feiras, nos dias 16/7 e 23/7.
O encontro abordou como o a pandemia de covid-19 tem sido enfrentada na Argentina, Espanha, México, Uruguai e Portugal. A série de eventos, com foco na qualidade de vida da pessoa idosa, prossegue nas próximas quintas-feiras, nos dias 16/7 e 23/7.
O presidente do ILC, Alexandre Kalache, é o curador do evento e mediou a primeira edição do debate virtual. Ele destaca que o mundo está vivendo a maior crise sanitária do século, da qual o Brasil é agora o epicentro.
“Quando nós formulamos essa série de webinários, pensamos muito em como fazê-lo. Temos muito a aprender com o que já aconteceu e com o que está acontecendo. Estamos diante de um inimigo biológico feroz e traiçoeiro, que ainda não é bem entendido. A perspectiva da vacina ainda é um sonho e prever esse futuro ainda é muito difícil”, disse.
A primeira debatedora foi a ex-IMSERSO e Fundación Matia, a gerontóloga Mayte Sancho, que trouxe o panorama da experiência espanhola. Em sua exposição, ela disse que a maioria das pessoas que morreram na Espanha são maiores de 80 anos. Mayte destacou a entrega dos profissionais cuidadores, a maioria mulheres imigrantes da América Latina, que recebem pouco e merecem melhor reconhecimento.
Ela disse ainda que o tratamento e o valor social foi evidenciado entre os idosos, inclusive na linguagem. “Primeiro foi usado o termo ‘internos’ e estão usando termos carcerários para referir-se a pessoas que estão passando a última etapa de sua vida. Outra questão são os termos paternalistas, e se somos paternalistas, decidimos por essas pessoas. Isso está muito longe do tratamento igualitário que merecem todos os cidadãos”, destacou.
Em seguida, o médico e membro da Universidade Nova de Lisboa, João Carlos Siqueira, apresentou o panorama de Portugal a partir de um caso de atendimento a um casal idoso no serviço de urgência. Entre as medidas criadas no país, estão a quebra da cadeia de transmissão e os planos de contingência interna, além da criação de legislação específica para o cuidado com a população idosa nas casas de repouso pelo Ministério da Saúde.
O médico explicou ainda que a população idosa representa uma parte importante de casos confirmados em Portugal, que tem, apesar de tudo, uma evolução tranquila. Para ele, os desafios fizeram com que novos cenários fossem vislumbrados e, por isso, há um esforço para tornar o sistema de saúde mais robusto, já que em breve chegará a época de gripe sazonal e os desafios serão redobrados.
“Habituados que estamos a cuidar do outro em proximidade, com toque físico, agora é hora de distanciamento social, máscaras e protetores faciais, Isso nos deixa angustiados, mas esperançosos porque estamos fazendo os melhores cuidados possíveis e protegendo nossos doentes de uma maior mortalidade associada a este grave problema de saúde pública”, encerrou.
A terceira expositora foi Mónica Roqué, que é Presidente da Federação Latino Americana de Gerontologia Social e apresentou o cenário da Argentina. Ela explicou que o país tem algumas questões semelhantes à Espanha, mas que teve a oportunidade de ver antes o que aconteceu na Europa para elaborar protocolos, como a restrição da entrada nas instituições de cuidados aos idosos para prevenir o contágio.
Dentro do protocolo de fechar essas instituições, foi inserido um reforço econômico para contratação pessoas para compor uma equipe de proteção. Segundo Mónica, a proteção social também foi muito importante para seguir com a quarentena. “Foi um trabalho conjunto entre os governos municipais, provinciais e nacional com as instituições para manter esses cuidados e as taxas de contaminação baixas. Nesta pandemia não temos que cuidar somente do aspecto biológico, mas também do aspecto psicosocial”, disse.
Adriana Rovira, do Ministério de Desenvolvimento Social do Uruguai, abordou um breve contexto da situação atual daquele país com relação à Covid-19. Ela destacou que o Uruguai tem sido visto como um caso exitoso de resolução e respostas à pandemia e isso está ligado a várias situações, como as políticas públicas e a proteção dos direitos humanos à população. “Parte deste êxito está ligado ao fato de que a população é pequena e está dispersa, e isso implica que não há grandes cidades com grande aglomeração de pessoas”, ressaltou.
Outro ponto foi o grande choque da população com o que aconteceu na Europa. “Somos culturalmente próximos e isso teve um grande impacto nas pessoas, que acataram fortemente as medidas de distanciamento social”, disse. Para ela, a Covid-19 não é somente um vírus, “mas se tornou uma espécie de lupa que mostra o cenário de desigualdade social, entre os que têm direito e os que vivem em precariedade.”
A questão do México foi abordada por Verónica Montes de Oca, da Universidad Autonoma de Mexico, que explicou que naquele país o setor de Saúde é muito deficiente. “Estamos falando de um contexto de um sistema de saúde completamente desmantelado”, lamentou.
Ela destacou que foi criado o Instituto Nacional de Saúde para Bem Estar, que tem uma função de coordenação de todo o sistema de saúde desarticulado e que, a partir do registro do primeiro caso, o presidente recorreu aos saberes científicos para entender a gravidade do que estava acontecendo.
A partir de então foi feito uma espécie de consórcio entre a Secretaria de Defesa Nacional, Secretaria da Marinha, Secretaria de Saúde como grande coordenadora com a intenção de articular o atendimento e coordenar a gestão de leitos e respiradores. “A atenção foi centrada em idosos, mas vivemos um dilema de protecionismo e perda de autonomia, sem envolver a voz do idoso, infantilizando e paternalizando essa população”, ressaltou.
O diretor executivo da Unibes Cultural, Bruno Assami, destacou os desafios sociais que a humanidade está atravessando e que a longevidade não poderia deixar de ser a grande pauta. “O idoso só existe para quem nasce, então vivemos um grande paradigma de ter que mudar essa visão do que está estabelecido. Essa é uma realidade que não vai ser mudada, pelo contrário, será mais impactada. Daqui há 30 anos a humanidade será mais longeva, no Brasil será 30% da população, é um número que está tomando uma proporção e parece que a sociedade não quer acordar para esse olhar”, disse.
Ele destacou ainda que a Covid-19 evidencia a desigualdade social e a falta de sensibilidade sobre a trajetória da vida, que esses debates promovidos pela série de webinários são muito oportunos e vitais para que essa discussão seja encampada.
Por fim, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin destacou que o Brasil, junto com os Estados Unidos, lidera o número de infectados e de mortos no mundo. Entre os fatores negativos brasileiros, ele falou sobre a realização das festas de Carnaval, a visão negacionista do governo federal do ponto de vista epidemiológico, as grandes desigualdades sociais do país, e a troca de três ministros da Saúde em menos de 90 dias. Por outro lado, destacou como ponto positivo o Sistema Único de Saúde (SUS), que está fazendo a diferença.
Alckmin ressaltou que o Brasil é um país continental e, por isso, há cenários diferentes entre as regiões. “Enquanto em São Paulo já vivemos o platô, em outras regiões os casos ainda em ascensão, além de grandes diferenças no sentido de letalidade e a falta de testagem. Estudos afirmam que os números de infectados devem ser de seis a oito vezes maiores do que os oficiais”, disse.
O ex-governador destacou que essa situação de pandemia pode se repetir, conforme as situações dos anos anteriores, como a Sars-Cov-1, Sars, Mers, Ebola e agora Sars-Cov-2. “É uma situação que vai fazer com que os países invistam mais em ciência e saúde para que possam responder mais rapidamente. Estamos todos em um grande aprendizado, e a promoção da saúde e investimento na ciência serão necessários e relevantes”, encerrou.
Por fim, o mediador Alexandre Kalache agradeceu à OEI, Inteligência Educacional e Unibes Cultural, além dos debatedores, por terem dedicado tempo para discutir questões tão relevantes. Kalache aproveitou para apresentar os temas que serão apresentados no próximo encontro, do dia 16, numa abordagem sobre a situação do Brasil a partir da análise do Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste.
Matéria original: https://aredacao.com.br/noticias/136785/webinario-trilhas-da-longevidade-aborda-desafios-da-pandemia-em-4-paises