Ao longo dos anos, a humanidade vivenciou inúmeras mudanças na forma de divulgação de informações e comunicações na sociedade. Para o filósofo grego Sócrates, era confortável ensinar da maneira oral, ser ouvido e questionado instantaneamente, mas essa forma de transmissão oral, já apresentava suas dificuldades, tais como a falta de compreensão do interlocutor, a medida que recorrendo a Lacan, a comunicação é um processo complexo e não linear.
Retomando os gregos, foi uma marca grega a questão dos diálogos políticos, das aulas ao ar livre, especialmente nas Ágoras. Passando para o império romano, as pessoas também passavam horas discutindo diversos assuntos nas termas da cidade, que acolhiam várias pessoas, inclusive de diferentes classes sociais. Depois vieram os livros, a documentação, a sistematização de ideias e conceitos que, com certeza, causaram estranheza em um primeiro momento. Na idade média, por exemplo, nem todos tinham acesso aos livros e havia um controle religioso muito forte das mentalidades.
E de oral e impresso, o conhecimento perpassa, atualmente, pelas redes. Segundo José Carlos Libâneo (2001, p. 3): “[…] o pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não-formal, criando formas de educação paralela, desfazendo praticamente todos os “nós” que separavam escola e sociedade”. Nenhum recurso deixou totalmente de existir, mas de fato um vai ganhando mais protagonismo que o outro, ou se misturam. Penso que se Sócrates pudesse estar nos observando, ficaria espantado com os jovens de smartphones na mão, distraídos, em redes sociais que, se não bem usadas, nada agregam e muito os dividem.
Novas linguagens tendem a gerar muito receio nos professores, e muitos não estão preparados para acompanhar o surgimento dessas novas formas de comunicação e informação, que demandam metodologias diferentes, que não só diversifiquem as aulas, mas também sistematizem conhecimentos.
Essa resistência às novas tecnologias de informação e comunicação em um primeiro momento pode até ser aceitável, entretanto, como profissionais da educação é preciso ler esses fenômenos e dialogar com eles. Através das tecnologias as informações podem chegar de forma mais acessível e rápida, mas vale lembrar que a informação por si só não nos leva diretamente ao saber.
É função social dos professores mediar esses processos. É preciso instigar os alunos a se tornarem mais críticos e reflexivos, a questionar as fontes, o processo de produção e a qualidade dessas informações que lhes chegam, além de debater assuntos, fazer comparações e conhecer diferentes pontos de vista. Para José Carlos Libâneo (idem, p. 19): “A qualidade é um conceito implícito aos processos formativos e ao ensino, implica educação geral onilateral, voltada para a cidadania, para a formação de valores, para a valorização da vida humana em toda as suas dimensões”.
A época atual demanda um esforço de todos, para que a educação possa ser reconhecida dentro do espaço que deve ocupar na produção do conhecimento e no processo de emancipação social; pois é na escola que as interações acontecem, que a produção cultural e científica produzidas pela humanidade é socializada e o senso comum pode se tornar crítico. Como uma invenção nossa, as tecnologias de informação e comunicação devem estar a nossa disposição, para a construção de um mundo melhor. Então que mergulhemos e misturemos tudo: oralidade, livros e tecnologias.
Amanda Karla Correa Rego é formada em História pela UFG, é mestranda dessa mesma instituição e graduanda de Pedagogia pelo IF Goiano.
Referência bibliográfica
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas. Educar, Curitiba, n. 17, p. 153-176. 2001. Editora da UFPR.