Uma conversa sobre consciência e prevenção com:
Ana Lourdes (Psicóloga clínica, especialista em saúde mental e mestranda em saúde mental e políticas públicas )
No mês de Janeiro, quando trabalhamos a conscientização e promoção da saúde emocional precisamos falar sobre acolhimento e como quebrar os tabus sobre a saúde mental em crianças e adolescentes.
É importante pontuar a importância da escola para a saúde emocional. A própria constituição de 88 considera a escola como um lugar propício para as ações de saúde mental e para promoção e prevenção à saúde. E ninguém mais representa melhor o papel da escola como o professor. Não é mesmo?!
São os professores que lidam diretamente com as consequências de danos emocionais, mas também quem têm mais possibilidades de encaminhar e contribuir para a melhora ou tratamento em casos necessários.
Conversamos com a psicóloga clínica, especialista em saúde mental e mestranda em saúde mental e políticas públicas, Ana Lourdes, que já iniciou sua fala com a seguinte colocação: “o professor tem um papel fundamental na vida. Até porque as crianças e os adolescentes hoje em dia passam, com a integralização da escola hoje, muito mais tempo dentro da escola do que talvez dentro das suas próprias casas. Então o papel do professor neste processo é de mediador, é de observador e de acolhedor.”
Como lidar com o assunto
Mas como saber identificar e trabalhar a saúde emocional das crianças e adolescentes? De acordo com Ana Lourdes, é muito importante abrir espaço para diálogos abertos sobre emoções e quebrar os tabus quando o assunto for saúde da mente e emoções: “A gente precisa pensar que a escola como um processo de educação, ela (a escola) precisa talvez buscar uma capacitação, uma reorganização dentro do seu contexto. Para que fortaleça as questões de saúde mental assim como tratamos as outras questões de saúde. Quebrando todos esses preconceitos e esses tabus que envolvem esse tema.”
Isso se torna mais importante ainda, uma vez que muitos professores e instituições muitas vezes rotulam ou impõem rótulos aos alunos que podem criar marcas para toda uma vida. A especialista Ana pontuou, ainda, que:
“Acolhimento é essencial para vencer esses estigmas relacionados à saúde mental. Eu acredito que o primeiro passo que deve acontecer é criar espaços de trocas e experiências entre os pares dentro da escola. Para que o estudante não se sinta diferente dos demais ou experimentar algo de desequilíbrio emocional. Nós sabemos que a criança e o adolescente, dentro do seu desenvolvimento, pode perceber talvez algumas alterações de comportamentos que são normais para aquela faixa etária. Então é importante buscar orientações sobre isso, sobre a questão do desenvolvimento normal e daquilo o que a gente tá chamando de anormal, dentro de um processo de desenvolvimento humano. A gente sabe que a criança e o adolescente, principalmente dentro da fase de adolescente e pré adolescência por exemplo, é muito comum ter alterações de humor ou ter alterações de comportamento. E, a gente precisa antes de rotular ou de ‘diagnosticar’ buscar uma orientação mais assertiva nesse momento. Ter uma orientação mais assertiva e de mais clareza para pensar em um diagnóstico de saúde mental. Ou seja, a gente precisa avaliar o contexto. Porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca que a saúde mental é um bem-estar físico, psicológico, social, comunitário, espiritual, ambiental.. Não simplesmente de processos individuais de comportamento. “
Abra espaço para falar abertamente sobre as emoções
No Brasil, ainda passamos por muitas barreiras morais para lidar com o assunto, já que não temos uma cultura de falar abertamente sobre os sentimentos. Por isso, educar para que os próprios alunos aprendam a falar e, assim, lidar com as emoções é uma iniciativa não só importante, mas necessária.
Quando existe um espaço acolhedor e propício para que haja a conscientização e a livre expressão, o diálogo tem muito mais chances de acontecer. Compreendendo que faz parte da saúde do corpo, já que a mente está inserida nele, o ambiente escolar pode oferecer muito para a qualidade de vida e de saúde.
A profissional acrescentou ainda: “Falar do sofrimento, falar das suas dificuldades, ter um espaço apropriado para essa escuta e para essa troca de experiências é muito importante para essa troca dentro do contexto escolar. Os professores precisam estar atentos a isso e pensar em promover esses espaços e buscar ajuda de especialistas. Porque a gente sabe que existem especialistas em todo processo de saúde e doença, e a saúde mental não é diferente. Então é preciso buscar informação. De fazer encaminhamentos adequados.”
Entenda que cada processo tem o tempo de acontecer
É importante ter diálogo aberto, mas também compreender que algumas mudanças de humor e comportamento nem sempre indicam danos emocionais. Por isso, é importante que esse diálogo aberto seja sempre muito bem orientado por profissionais. Para não acontecer de uma criança ser taxada ou rotulada erroneamente.
A psicóloga esclareceu a importância de oferecer acolhimento e informação no lugar de rótulos ou preconceitos em relação aos problemas que as crianças podem ter: “É muito importante aos professores não rotular e não diagnosticar. A gente percebe muito, dentro da minha experiência dentro de uma rede de atenção psicossocial, que juntamente com a escola chegam muitos encaminhamentos já com diagnósticos e já com rótulos colocados muitas vezes pela própria escola. E a gente tem que ter muita cautela em relação a isso. Porque um rótulo para um adolescente e para uma criança pode se tornar comprometedor para o resto de sua vida. Então é preciso fazer uma avaliação. Para ver se é um processo de desenvolvimento ou se está sendo um transtorno. O que está ocorrendo no processo dessa criança e adolescente que está interferindo na aprendizagem.”
Sintomas aparentes de sofrimento emocional
De acordo com a especialista, existem alguns sinais que podem indicar que há a presença de danos emocionais ou mentais que o professor pode se atentar no ambiente escolar:
“A gente tem vários sintomas que podem exemplificar talvez um sofrimento mental. Que pode estar sendo provocado e produzido por várias situações, às vezes até mesmo dentro do contexto familiar ou social. Então a gente tem: as dificuldades de aprendizagem, irritabilidade, agressividade, a gente tem o isolamento. Então existem vários comportamentos que podem estar relacionados a um transtorno mental.”
Sempre que possível conte com o apoio de especialistas em desenvolvimento e emoções. Lembre-se sempre que a escola deve ser uma instituição de prevenção e promoção da saúde mental!
“É importante pensar no conhecimento e nas informações da rede que essa escola está e na rede que ela tem como suporte. Que é uma rede especializada. Como nós temos hoje, a rede de atenção psicossocial que é dentro das políticas públicas onde presta esse acolhimento e esse serviço. Que são os CAPS, que são serviços especializados em saúde mental. Eles tem como proposta justamente isso: trabalhar as questões de saúde mental dentro de um território. É importante fazer esses encaminhamentos adequados e fazer uma avaliação adequada para que seja feita a melhor forma de tratamento, ou de ajuda ou de acolhimento necessário.” Concluiu Ana Lourdes.
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