22 de abril, uma data para o diálogo decolonial

O Sol nasceu forte e imponente naquele dia, Raoni já estava de pé desde antes da chegada dos primeiros raios de luz. Ele não sabia muito bem, mas há dias vinha sonhando com seres que não conhecia, eram vultos que apareciam de forma opaca, seres que tinham os pés revestidos por algo, que os impediam de ter contato com a terra; no sonho Raoni sentia que esses seres tinham um cheiro diferente, o tom da pele em nada se parecia com o do seu povo, e o som que saia da boca era incompreensível.  Alguns portavam duas madeiras que se cruzavam, carregavam nas mãos, e diziam ser sagrado esse objeto. Ao acordar do sonho, ou pesadelo? Ele sempre chorava.

         No dia 08 de março de 1500, a esquadra comandada por Pedro Alvares Cabral, partiu de Lisboa, cercada de pomba e circunstância, com aproximadamente 1400 homens. No dia 22 de abril de 1500 avistaram um monte no litoral do sul da Bahia, elevação que foi batizada de monte Pascal, pois era período da Páscoa. Pisaram em terra no dia 23, exatos 45 dias após a partida de Portugal, e dois dias depois celebraram a primeira missa. Todo o desfecho desse ritual de conquista se deu no dia 1º de maio, com a celebração de uma segunda missa, e declaração de posse sob essas terras.

           Acima temos duas narrativas que tratam da história do Brasil, mas apenas uma foi ensinada na escola. O escritor estadunidense George Orwell disse certa vez que a história é contada pelos vencedores, parafraseio-o para dizer que a história brasileira, especialmente sobre o “descobrimento do Brasil”, foi contada pelo colonizador.

          Com os avanços nos estudos de decolonialidade e de uma pedagogia decolonial, conceito carregado de sentido pelos movimentos sociais indígenas latino-americanos e que questiona a colonialidade do poder, do saber e do ser; nós professores devemos encontrar formas de pensar e se posicionar a partir da diferença colonial, na perspectiva de um mundo mais justo. É preciso reconhecer as contribuições dos povos originários, nações milenares que já contavam com uma organização política e social, tinham técnicas que remetiam ao período paleolítico, praticam agricultura de subsistência, tinham seus deuses e suas crenças, possuíam defeitos e qualidades.

         O Brasil que temos é resultado da contribuição dos europeus, indígenas e africanos, por isso nesse dia 22 de abril é fundamental que tenhamos um olhar crítico sobre a data, para assim também formamos cidadãos críticos e participativos.

Edergênio Negreiros Vieira é professor, mestre em Educação, Linguagem e Tecnologias

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