Brasil na pandemia: São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste

O segundo encontro foi realizado no dia 16 de julho e teve como tema “Brasil na pandemia: São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste”, com discussões sobre políticas públicas voltadas aos idosos nas regiões citadas. O chefe da representação da OEI no Brasil, Raphael Callou, agradeceu aos participantes pela presença na conversa, inseriu os assuntos que seriam pauta no episódio e ainda apresentou a atuação da Organização no Brasil.

Diretor da Inteligência Educacional, Sandro Resende destacou, em seguida, o choque entre as quatro gerações que habitam em conjunto o mundo contemporâneo. Para ele, existe a necessidade de inclusão do público mais velho no País. O diretor lançou oficialmente, então, a coletânea ‘Trilhas da Longevidade’, escrita em parceria com o sociólogo Floriano Pesaro.

Marília Louvison, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), abriu o debate e traçou perspectivas sobre o avanço do novo coronavírus no território paulista. Para a pesquisadora, uma pandemia desta ordem precisa de dados mais específicos sobre o avanço do vírus e políticas de antecipação de exames e internações poderiam ter sido adotadas para prevenir a vida de pessoas mais velhas.

    

O médico de família, Eberhart Portocarrero-Gross, que atua na Rocinha (RJ), explicou características e dificuldades do enfrentamento à covid-19 no Rio de Janeiro, principalmente em regiões mais vulneráveis economicamente. Para o profissional de saúde, a pandemia explicitou as desigualdades já existentes no País. Portocarrero-Gross ressaltou ainda que as decisões poderiam ter sido melhor direcionadas se houvesse coleta organizada de dados e números claros sobre a doença no país.

 

O cenário do combate à pandemia no território nordestino foi apresentado pelo diretor do Instituto do Envelhecer da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Kenio Lima, que explicou que foi organizada uma articulação dos governadores da região nesse enfrentamento de modo coletivo da pandemia. Ele destacou que a criação do Comitê Científico do Consórcio Nordeste foi também no sentido de combater a “infodemia” e a desinformação, com o respeito pela ciência, que é um ponto fundamental. Ele também pontuou a subnotificação na região e alertou para a confirmação de casos do novo coronavírus em quase todos os municípios do Nordeste.

 

 

Temas transversais – O professor da FSP-USP, Alexandre da Silva, tratou das consequências da pandemia para pessoas negras e em estado de vulnerabilidade econômica e social, apresentando de que maneira o que se tem falado sobre o racismo tem influenciado a questão da Covid-19. Para ele, o novo coronavírus não se sucedeu como uma doença “tão democrática assim”, pois atinge com mais agressividade a população brasileira negra.

 

Marília Berzins, do Observatório do Idoso, abordou durante sua participação a necessidade de se voltar atenção às mulheres nesta pandemia. Segundo ela, estas representam maioria dos profissionais de saúde, principalmente entre técnicos de enfermagem, parte da linha de frente de combate à Covid-19. Ela destacou a questão de gênero e as consequências para a mulher da precarização do trabalho e como elas estão sofrendo mais e no que isso resulta.

 

Em seguida, a representante da prefeitura de Belo Horizonte, Karla Giacomin, comentou os parâmetros gerais do enfrentamento da pandemia e os cuidados voltados aos idosos, grupo por ela destacado como os “mais afetados e com maior taxa de letalidade entre os pacientes da doença”. Ela ressaltou que Instituição de Longa Permanência (ILP) traz o risco de maior letalidade de idosos institucionalizados e que a política brasileira se sustenta no ideal de família que não existe mais. Para ela, as políticas de saúde brasileiras se apoiam no ‘familismo’, o que ela considera uma “falha”.

 

Último debatedor a falar, o presidente da Sociedade Brasileira Geriatria Gerontologia (SBGG), Daniel Azevedo, fez um resumo das falas por ele consideradas mais relevantes ao longo do bate-papo com os outros especialistas. Daniel ressaltou ainda a reflexão oportuna sobre a Covid não ser tão democrática e sobre a inclusão de pessoas negras nos testes dessa nova vacina, além da questão de gênero no cuidado das pessoas idosas e as questões das instituições de longa permanência e a discussão muito urgente sobre a normatização. O presidente da SBGG trouxa, ainda, sua preocupação especial com as pessoas com demência, que dependem de profissionais e cuidadores para manter o seu conforto.

 

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